“É doloroso lidar com perdas de aeroviários em função do Covid-19. Tenho recebido muitas mensagens com relatos de falecimento dos nossos profissionais, com concentração de óbitos nas empresas terceirizadas dos aeroportos. Pelo menos no que diz respeito ao Rio de Janeiro, até agora. Áudios angustiantes de colegas em busca de auxílio ou de apoio emocional, que em desabafo relatam a sensação de impotência por não terem podido ajudar companheiros de anos de trabalho em sua jornal final da vida.
Apenas nos aeroportos daqui do Rio de Janeiro já fui informada sobre o falecimento de aproximadamente 10 profissionais. A maior parte atuava em empresas terceirizadas. Nós, da direção do Sindicato Nacional dos Aeroviários, acreditamos que este elevado índice está diretamente relacionado às condições econômico-sociais desses trabalhadores, associado ao possível descaso de algumas contratantes.
É preciso fazer uma análise cuidadosa sobre as medidas de prevenção adotadas nesses locais de trabalho. Esses profissionais estão na linha de frente do fluxo de passageiros e precisam de cuidados especiais durante a realização de suas atividades.
Medidas do SNA durante o Covid-19
O fornecimento de EPI’s (Equipamentos de Proteção Interna) já era uma preocupação desta direção antes mesmo de o novo coronavírus entrar oficialmente no Brasil. Infelizmente, apesar das nossas tentativas de diálogo com as administradoras do aeroporto, não recebemos a atenção necessária que já se fazia urgente.
Mesmo após a pandemia se declarada pelo OMS (Órgão Mundial de Saúde), muitas empresas e terceirizadas se negavam a disponibilizar máscaras, luvas e álcool em gel para os profissionais. Tivemos que empregar muitos esforços para que as determinações de prevenção fossem devidamente adotadas. Mas nosso árduo trabalho parece não ter alcançado os melhores resultados no que diz respeito as prestadoras de serviços.
Também nos causa certo conforto perceber que órgãos públicos vêm tomando decisões coerentes neste momento. Um exemplo é o STF (Supremo Tribunal Federal), que determina estabilidade aos profissionais que adquirem o Covid-19 durante suas atividades laborais, por entender ser esta uma doença ocupacional.
Óbitos nas terceirizadas dos aeroportos precisam ser avaliados
A direção do SNA vem questionando o porquê de o número de óbitos relatados ser tão alto nas terceirizadas. Neste primeiro momento, estamos acionando os representantes de todos os aeroportos de nossas bases no país para fazer um levantamento mais aprofundado sobre as condições de trabalho nas prestadoras de serviços aéreos.
Nossa luta por reconhecimento adequado dos profissionais terceirizados nunca foi tão urgente. Sabemos do triste histórico em que muitas contratantes sequer reconhecem esses trabalhadores e trabalhadoras como aeroviários, para não precisarem cumprir a CCT (Convenção Coletiva de Trabalho) da categoria – uma das melhores do país, graças ao empenho da direção deste Sindicato. É preciso, mais do nunca, mudar o comportamento dos empresários da aviação civil.
Pedimos a todos os profissionais que neste momento atuam nos aeroportos sem o uso de EPI’s necessários que denunciem suas contratantes em nosso e-mail atendimento@sna.org.br . A identidade de todos vocês será preservada. Precisamos da colaboração dos aeroviários e aeroviárias na realização deste trabalho. Se antes nosso objetivo era garantir melhores condições de salário e emprego, hoje a nossa luta é pela manutenção da vida dos profissionais da aviação civil. Contamos com vocês”.
Selma Balbino,
Diretora do SNA
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Foto: Ag. Amora